Em 2003, o historiador de arte espanhol José Milicua redigiu um artigo para o jornal “El Pais”[1], de Madri, no qual informava o uso da arte moderna como uma forma deliberada de tortura. Wassily Kandinsky, Paul Klee, Johannes Itten, Luís Bunuel e Salvador Dali são apontados como fornecedores das bases técnicas e teóricas para esse alargamento dos modos de repressão política.
Trata-se de celas construídas sob a orientação do artista francês Alphonse Laurencic há mais de 65 anos, na Espanha, usando técnicas surrealistas e geométricas da arte abstrata, para abrigar prisioneiros de guerra e inimigos políticos durante a sangrenta guerra civil espanhola.
Alphonse Laurencic teria inventado um novo tipo de tortura: a tortura “psicotécnica” .
Em Barcelona, camas eram construídas com uma inclinação de 20 graus, impedindo um sono tranquilo; no chão da cela, fixados tijolos em relevo e figuras geométricas em intervalos regulares a fim de impedir que o prisioneiro pudesse caminhar por ela livremente; as paredes da mesma eram curvas e recobertas por figuras geométricas, utlizando padrões, cores, perspectiva e escala escolhidos cuidadosamente para causar confusão mental e estresse que eram pontecializados sob o efeito da luz: parecia que se moviam.
Algumas dessas celas possuíam assentos em pedra projetados especialmente para fazerem o prisioneiro deslizar para o chão, ao tentar sentar sobre eles; enquanto outras eram pintadas propositalmente com pinche (betume), assim podiam aquecer sob o efeito do sol e produzir um calor asfixiante.
Mas a cor preferida de Laurencic seria o verde que, de acordo com suas teorias dos efeitos psicológicos das cores, produziria tristeza e melancolia nos prisioneiros.
Em 1939, Laurencic respondeu a um processo criminal por tortura em um tribunal franquista, quando teria feito as declaraçoes trazidas a público por José Milicua, após estudo das peças processuais.
De acordo com os condutores do processo de Laurencic, essas atividades não ficaram restritas à Barcelona. Numa cela em Múrcia, no sudoeste da Espanha, prisioneiros eram levados a sessões de cinema forçadas: eram obrigados a observar a famosa cena de “O Cão Andaluz”, filme de estréia de Luís Bunuel e Salvador Dali, na qual o olho de uma mulher é atravessado por uma navalha.
Referências:
[1] The Guardian. Anarchists and the fine art of torture. Disponível na internet em: http://www.guardian.co.uk/world/2003/jan/27/spain.arts. Consultado em 21.11.09.
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