segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pé-direito


Na véspera do jogo Brasil x Holanda na Copa do Mundo deste ano, o neurocientista carioca Stevens Rehen, um dos mais respeitados pesquisadores brasileiros de células-tronco, recebeu um telefonema do irmão. Do outro lado da linha estava o músico e antropólogo Lucas Kastrup Rehen, baterista da banda de reggae carioca Ponto de Equilíbrio. Contava que o guitarrista do grupo, Pedro Caetano, 29 anos, havia sido preso por cultivar dez pés de maconha em casa. Adepto da religião rastafári, seita de origem jamaicana que faz uso da droga em seus rituais, Pedro fora enquadrado como traficante por causa da ambiguidade da lei 11.343, de 2006, que não determina a quantidade exata de droga que separa usuários e fornecedores. E por isso ficou 14 dias na cadeia. A história teria sido mais uma nas páginas de jornal se não tivesse esquentado uma discussão que começava no meio científico, sobre a legalização da maconha no Brasil. O tema veio à baila diversas vezes desde que a Organização das Nações Unidas (ONU), em 1961, aconselhou todos os países signatários a proibi-la. A diferença é que, desta vez, os debatedores foram inéditos.
Em vez de políticos ou artistas com ideais liberais, quem levantou a bandeira da legalização foram quatro dos cientistas mais respeitados do Brasil: Stevens Rehen é diretor adjunto de pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); João Menezes, neurocientista com Ph.D. no Massachusetts General Hospital e na Harvard Medical School, nos Estados Unidos, além de professor da UFRJ; Cecília Hedin, neurocientista e doutora em biofísica, divide com Menezes a direção do Laboratório de Neuroanatomia Celular do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ; e Sidarta Ribeiro, Ph.D. em neurociências pela Universidade Duke, nos Estados Unidos, é chefe do laboratório do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
A questão levantada pelos cientistas se resume em três pontos. No primeiro, argumentam que o que é proibido não pode ser regulamentado. A maconha vendida no mercado ilegal é mais nociva para a saúde de quem consome, uma vez que a erva pode ser misturada com outras substâncias mais pesadas, como o crack. O segundo ponto é o de que a Cannabis sativa (nome científico da maconha) pode ser usada como remédio no tratamento de diversas doenças. O terceiro, e principal ponto da argumentação, diz que a droga faz mal ao corpo — mas não tanto quanto já se pensou — e que esse problema é bem menor quando comparado aos males que seu comércio ilegal causa à sociedade. “Precisamos discutir o que é ‘menos prejudicial’: os efeitos da maconha no indivíduo ou a violência associada ao tráfico”, diz Rehen.
Com esses argumentos na cabeça, os quatro neurocientistas publicaram no jornal Folha de S. Paulo, em julho, uma carta que criticava a prisão de Pedro Caetano. Diziam que a política de proibição da maconha é mais danosa do que seu consumo. Causaram polêmica. E inauguraram um debate incitado pela troca de artigos (ao todo quatro, dois a favor e dois contra, até o fechamento desta edição) a respeito da legalização da maconha, publicados no mesmo jornal. A discussão foi adiante e chegou-se ao ponto de questionar se esses profissionais deveriam marcar posição em questões sociais. “É comum o cientista achar que não é seu papel participar desses debates, sem perceber que sua disciplina é, muitas vezes, utilizada para justificar políticas públicas”, afirma Menezes. “Muitos se julgam neutros, mas raramente um de nós de fato é.”
Do lado de quem é contra a legalização, as principais preocupações passam pelo aumento do consumo da droga, pela descrença de que a legalização diminuiria o tráfico e pela falta de preparo do sistema de saúde pública para atender os usuários. “Sou contra qualquer mudança de política que tenha a chance de aumentar o consumo da maconha”, diz o psiquiatra e pesquisador Ronaldo Laranjeira, que assinou as cartas-réplicas publicadas na Folha com sua colega no Instituto Nacional de Políticas do Álcool e Drogas, a psiquiatra Ana Cecília Roselli Marques, doutora em ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Laranjeira, que tem no currículo um Ph.D. em psiquiatria pela Universidade de Londres, na Inglaterra, é professor da Unifesp. 


2 comentários:

  1. sinceramente, sou contra. mesmo tendo, inclusive, toda uma questão de religião por trás, fora uma série de todos os outros fatores, o que inclui questão de saúde pública, ademais.

    havia lido anos passados sobre a religião rasta, seu modo de vida e tals, muito bonito pra quem comunga desse modo de viver, sentir e agir e toda essa filosofia famosa em músicas do legendário bob marley.

    a legalização da maconha é paliativo que não vai acabar com um problema pior em nosso país: a violência, que não só inclui o tráfico da maconha ou seu uso indiscrimidado, vez ser o mesmo mais agravante como uso do crack, por exemplo.

    a legalização da maconha é solução ardil burguesa, que tampouco se preocupa de fato com o sucesso de seus pares menos abastardos. a história está aí nos livros, agora na internet, no dia a dia pra provar como a burguesia tem lidado com seus semelhantes, geralmente limpando o que ela acha de sujo ou que afeta-lhe os próprios interesses. ou ninguém mais lembra da guerra anglo-chinesa do ópio?! o ópio foi muito importante para subjugar o povo ou não foi?!

    e quem não tem dinheiro pra comprar maconha?! e qndo a maconha não sastifizer mais o prazer e a sensanção de liberdade, tranquilidade e sei lá quais sensações alhures proporcionados pelo vício?!

    está mais que provado que o uso de drogas, as tidas por lícitas, quais sejam o cigarro ou o alcool são por vezes a porta de entrada para outras, as chamadas ilicitas.

    daí porque até hoje, conforme pesquisas explicitam, grande parte dos que experimentaram as tidas por lícitas fizeram o mesmo ao menos uma vez com as ilícitas; isso se não incluirmos os que deram continuidade ou permaneceram nos vício, sabe-se lá tendo que fim.

    no mais, o uso dessas drogas, as ilicitas, claro, ao menos aqui no brasil, sucatearia um dos serviços estatais básicos, ou seja, a saúde pública e gratuita à qual constitucionalmente falando temos todos direito.

    já imaginou?! o estado tendo que desviar recursos de serviços de saúde, o mais graves, para implementar clinicas de reabilitação?!

    tudo bem que a vida de todos nós seja importante, mas há um obstáculo maior a ser quebrado, um que talvez perpasse a própria condição humanda decidir: que vida priorizar a que realmente passou por dificuldades naturais ou a daquele que provocou a própria dificuldade?! afinal, é função do estado priorizar a vida bem como a dignidade humana?! mas, que dignidade?! que vida afinal priorizar?!

    o uso de drogas entorpecentes em países que legalizaram-nas só o foi feito porque talvez eles saibam melhor solver seus problemas. são paises desenvolvidos, os quais os baixos ou altos indices de violencia se dão por outros fatores e que muito se diferem da realidade brasileira. além disso, tem um sistema de saúde avançado, etc.

    além do mais, práticas importadas nem sempre se coadunam com a realidade brasileira. ou vai me dizer que é certo impor no brasil uma nação bicolor, do tipo negro e branco (e não tô com isso querendo afirmar que aqui não existe racismo) qndo temos plena certeza que somos uma nação multicor?!

    é isso, meus caros. o problema é mais grave.

    e fico por aqui.

    só espero que a discussão se alongue. e não termine com essas minhas considerações.

    ah, tem um documentário super-higher-me. é meio pró-maconha. mas, fica a dica pra quem quiser assistir.

    abração!

    valfredo mateus.

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  2. ola amntes da cannabis sativa,olha ja fuium apaixonado pela erva mas hoj nao sou mais,sou a favor sim da liberaçao pois ums 80% da populaçao usa como um alibe calmante relax os outros 10% e viciado ativo e os outros 10% e contra a erva intao vamo liberar de uma ves......

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