segunda-feira, 25 de maio de 2009

Ensaio sobre a cegueira da crítica

Fiquei impressionado com a repercussão positiva do filme de Fernando Meireles por parte da crítica brasileira. A adaptação da obra de Saramago recebeu muitos elogios e quase nenhuma critica negativa no Brasil.
Graças a minha gripe, pude terminar de ler o livro e, logo em seguida, ainda extasiado com a magnitude da estória, botar o vídeo para rodar. Porém, quando iniciaram as cenas também principiaram minhas decepções.
Primeiro com os atores escolhidos. O médico cinquentão representado por um trintão de holywood com muito mais pinta de modelo que de médico. O primeiro cego, um reacionário, e sua mulher viraram um jovem casal japonês com pinta de moderninhos. Ressalva feita, Julianne Moore foi excelente.
Depois o cenário, bem mais limpo e cheiroso que no livro. A água não parecia tão suja. As locações não eram nem metade do horror que eram no livro.
Por último vem sempre o mais grave. Toda aquela ênfase Saramago da nos detalhes vis das relações humanas de forma sucessiva e até maçante. Todos aquelas situações violentas e degradantes descritas minuciosamente no livro para nos alertar sobre outra cegueira, no filme, passa a ser um amontoado de situações que vão correndo e ocorrendo simultaneamente para que o filme encaixe-se na forma padrão do mercado e que, por isso, parecem não guardar nexo entre elas. Ou seja, a principal mensagem do livro fica comprometida, aquela que diz que devemos prestar mais atenção às nossas relações perde-se naquele emaranhado de situações vexatórias.
Desta vez, infelizmente, Fernando Meireles, errou ao empregar sua conhecida maneira corrida de filmar, que tanto lhe rendeu bons frutos em outras vezes, a uma obra que pede calma, que pede atenção aos detalhes, que não corramos tanto assim com as nossas relações pessoais, enfim pede para que não sejamos cegos.
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2 comentários:

  1. Adiciono uma crítica à cegueira do público... Decepcionou-me bastante saber que muitas das pessoas que assistiram ao filme não leram o livro ou mesmo nem sequer sabiam da existência dele (e, por extensão, de José Saramago)...

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  2. Concordo com alguma críticas, especialmente a de que a mensagem principal do filme fica escondida sob o ritmo acelerado com que acontecem as tais situações vexatórias. Meirelles despolitizou cruelmente o filme.

    O problema aqui é que Meirelles recebeu todas as fichas de Hollywood e mais 25 milhões de reais para filmar Cegueira. Ou seja, teve que trabalhar e adaptar o livro pensando no retorno financeiro da coisa. Se metade do horror que é descrito no livro viesse às telas, não receberia um tostão furado. Daí que tenha feito inúmeros cortes após apresentações extra-oficiais...

    Gosto de Meirelles. Considero-o um excelente diretor, mas devo reconhecer que dessa ele falhou. Nem polemizou o filme, nem agradou aos mais "lights", já que cenas constrangedoras ainda aparecem ao longo do filme.

    No mais, acho inviável adaptar Saramago para a telinha, galera. Principalmente uma telinha tão amarrada a tantos interesses...

    E que venha a Lucidez!

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