
Primeiro Caderno | Dia-a-dia
Edição de quarta-feira, 8 de julho de 2009
Exclusão de 560 mil pessoas na capital
Mapa realizado pela PUC mostra que 80% de cidadãos estão à margem de políticas públicas
Isabella Araújo // isabellaaraujo.pb@diariosassociados.com.br
Em João Pessoa, 70 a 80% da população em torno de 700 mil habitantes vivem em situações sociais de dificuldades. São pessoas vulneráveis, que apresentam problemas de vínculo familiar ou que enfrentam complicações em virtude das condições de pobreza, falta de acesso às políticas públicas e que passam por formas de violência doméstica, entre outras situações de risco. Um mapa da exclusão foi elaborado e o resultado será apresentado em agosto pela Prefeitura de João Pessoa (PMJP), a partir de um diagnóstico das condições sociais da população que vive na capitral paraibana. O estudo foi levantado pela Pontífica Universidade Católica (PUC) de São Paulo para a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes).
O lavador de carros Fábio Medeiros talvez não saiba, mas é mais um integrante desta triste realidade. Desde os cinco anos de idade que ele começou a trabalhar coletando materiais para a reciclagem no antigo lixão do Roger. Estudou até a quinta série do ensino fundamental e, por isso, não conseguiu encontrar um emprego formal. Hoje, aos 25 anos, com esposa e filha pequena para sustentar, resolveu passar a lavar carros no Centro da cidade. O dinheiro apurado - entre R$ 70 e R$ 120 por semana - serve para pagar o aluguel, além de outras contas e garantir a alimentação de toda a família: "A gente passa dificuldade, se aperta, mas o principal de tudo é pagar o aluguel, senão somos despejados", disse o lavador de carros, que está procurando um novo emprego.
O secretário adjunto da Sedes, Lau Siqueira, chegou a afirmar que o cenário social projetado para a população de João Pessoa chega a ser "assustador". Ele explicou que, no entanto, com o diagnóstico que será apresentado em agosto, a Prefeitura poderá desenvolver atividades direcionadas de acordo com a realidade sócioeconômica da população, de forma estratégica: "Em João Pessoa, a questão do emprego e renda está diretamente ligada às condições de vida da população. Mas, as situações mais graves são as das pessoasque vivem abaixo da linha da pobreza, em condições completamente miseráveis", apontou Lau Siqueira.
O lavador de carros Fábio Medeiros tem empregos precários desde os cinco anos Foto: Fabyana Mota/ON/D.A. Press
A questão da vulnerabilidade termina atingindo a população de modo que nem sempre é possível o acesso à cidadania. Na saúde, por exemplo, as taxas de mortalidade infantil figuram entre as mais elevadas do estado, mesmo com um índice em decréscimo apontado nos últimos anos. Os valores registrados foram de 11,82 mortes a cada mil habitantes, em 2008; e 14,93, em 2007. Mas, em 2000, esse número chegou a ser ainda maior: 19,82 crianças que morreram antes de completar o primeiro ano de vida. A média ainda é considerada elevada, se comparada às cidades de primeiro mundo, cujos números são abaixo de dez. Por esse motivo, João Pessoa faz parte do Pacto de Redução da Mortalidade Infantil, que foi assinado em maio com o Ministério da Saúde e o Governo do estado, contando com a participação de mais vinte municípios paraibanos.
Em muitas situações, a mortalidade infantil revela uma condição social de insuficiência de açõespreventivas em saúde, condições inadequadas de habitação e saneamento, bem como falta de informação sobre medidas tão simples quanto importantes, como aleitamento materno e a aplicação de vacinas. A falta de informação torna-se a principal chaga ao desenvolvimento social. Por não ter conhecimento dos equipamentos e dos serviços que estão à disposição do cidadão, a população termina por desconhecer os próprios direitos e fazer escolhas sem utilizar critérios de referência que a auxiliem a fazer a melhor escolha.
Fonte: http://www.jornalonorte.com.br/2009/07/08/diaadia5_0.php
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