Que a revolução francesa configurou-se como um marco histórico de rompimento com uma conjuntura política é indiscutível. Exigindo um Direito natural, próprio dos homens simplesmente por serem homens, seja pela bondade divina e sabedoria próspera do Deus, seja pela perfeição da natureza ou ainda pela avassaladora mente humana, uma classe, a burguesia, unida ao povo esperançoso de dias de solidariedade, empreitou-se na derrubada do absolutismo e na superação mercantilista para o triunfo do capitalismo industrial, que se consolidava entre os séculos XVIII e XIX.
Ao chegar ao poder, a burguesia tratou de infiltrar-se em todos os âmbitos da experiência humana e o mundo jurídico não poderia ser esquecido. Uma vez que Direito, Política e Poder são farinha do mesmo saco e as mais bonitas e cruéis formas de oprimir outros seres humanos, eles foram muito meticulosamente re-elaborados e repensados para servir uma classe em específico em detrimento das demais que compõem o nosso conflito diuturno que alguém muito engraçado resolveu que era de bom tom chamar de sociedade (afinal, as coisas só surgem depois que damos nomes a elas, não é mesmo, Wittgenstein?).
Para isso, algumas instituições foram pensadas para compor esse novo Direito, racional, iluminado pela razão e de todos os homens. Uma delas foi a igualdade formal, mais conhecida como "todos são iguais perante a lei". Poderíamos citar outras, como a democracia representativa, a divisão em três poderes, os direitos do homem e do cidadão, enfim.
O que não ficou muito claro nessa manobra foi a definição desse todos. Quem são todos? Todos os sujeitos de direito? Aliás, o que é sujeito de Direito ou quem são os sujeitos de direito? Um estudante de direito dos dias de hoje rapidamente diria que são todas as pessoas, isto é, todos os portadores de personalidade jurídica aptos a figurar em uma relação jurídica dotados de capacidade jurídica de direito ou/e de fato. Mas não foi sempre assim.
Homem adulto, branco, rico e cristão. Esse foi o modelo para o sujeito de Direito do século XIX. Foi para ele que criou-se o "todos" e é ele que é igual perante a lei. Somos todos iguais? E o que é igualdade?
Nesse ponto é que entra a ideologia. Tomamos como marco teórico o marxismo, e entendemos ideologia como crença, porque não-pensado, não refletido, como instituição, porque objetivo e estrutural, e principalmente como falsa consciência da realidade ou como percepção deturpada da conjuntura histórica e da formação das ideias. Ao dizer que todos são iguais perante a lei, nós escondemos o conjunto de aspectos econômicos e sociais, determinantes indiscutíveis dos aspectos políticos e jurídicos, que impendem que extensas camadas da sociedade possam se igualar a outras no Judiciário.
A luta dos excluídos, portanto, é por uma igualdade material, em que haja condições materiais e estruturais para que todos sejam, de fato, iguais. E uma vez que no ordenamento jurídico não encontramos essa igualdade, o que nos resta são as ruas para tomá-las a força das mãos de quem já tem coisa demais.
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ResponderExcluirA ideologia seja em Marx, ou mesmo n'outro sentido mais clássico, se constitui por um conjunto de ideias com ligações lógicas e sintáticas entre si. O termo ideologia usado com sentido negativo no marxismo se refere ao campo da filosofia que se ocupa e se dedica na resolução dos problemas da humanidade, somente no âmbito das idéias. De acordo com este idealismo, que tem herança platônica, agostiniana, são as idéias que organizam, determinam e explicam a realidade humana. Por isso a razão, durante o iluminismo, foi tida como o meio pelo qual a humanidade ddeveria organizar-se, e sob à luz da razão trilhar caminhos que levasse a humanidade ao progresso.
ResponderExcluirMarx mostrou ineficácia e a crueldade dessa forma de pensamento, que não é negativa por si só, mas se torna dominadora pelo uso que dão. E neste caso estamos falando da dominação ideológica burguesa. A ideologia como um conjunto de valores, conceitos, princípios, teses etc, utilizada pela classe dominante para dominar àqueles que não têm, historicamente, ligação com esta classe, não tem relação material com a vida da maioria dos indivíduos que constituem a humanidade. Na verdade, e esta foi uma genialidade de Marx: o campo filosófico que corresponde ao pensamento burguês possui lacunas lógicas e imprecisão na explicação da realidade. O absolutismo, agora ideológico, foi destruído por Marx e Engels. A consciência, lugar onde paira a razão plena, não é o que determina a vida (ou ser): “O processo de vida material condiciona o processo de vida social, política e individual em geral. Não é a consciência dos homens que lhes determina o ser, mas pelo contrário, é o seu ser social que lhes determina a consciência.”. Assim aparece na história da filosofia um contraponto objetivo sobre ao idealismo platônico e agostniano (este afirmava que as coisas devem se adequar aos conceitos, e não os conceitos as coisas).
A ideologia não está separada da vida material dos invíduos, ao contrário, ela é consequência da realização das necessidades humanas. Uma vez que as necessidades estão supridas, os indivíduos estão condições de emancipar sua consciência e realizar as aventuras mais fantásticas da razão. Portanto "luta", "igualidade material", "ideolgoia" e "igualdade formal", constituem uma ideologia por partirem de alguma realidade material e neste caso, os conceitos fazem parte de uma ideologia burguesa. A revolução francesa, ou seja, burguesa, não separava seus ideais da luta e da igualdade material (já é uma mesma classe que realiza o movimento revolucionário).
Minha intenção não é refutar a conclusão do texto, mas é salientar que a luta pelos excluídos e por igualdade material, faz parte de um ideologia. Mas não a ideologia burguesa que resolve todos os problemas existências, organizacionais, jurídicos etc, através de raciocínios lógicos que se fecham em si e não transpõem a barreira entre a consciência e a vida. Busquemos a ideologia que primeiro explique nossa condição material e nos conduza para ações transformadoras da realidade, onde sua realização só é possível através da luta. Este conjunto de idéias (ideologia) e práticas se encontram no marxismo, mas antes no materialismo dialético. O marxismo dá sentido histórico, metodológico, organizativo e revolucionário!
Enfim, esse blog tá massa, hein! Valeu esses companheiros do Desentoca!