domingo, 21 de agosto de 2011

CULPADO ATÉ QUE SE PROVE O CONTRÁRIO: estudante da UFPB e membro do NENN.UFPB é vítima de racismo


Na Paraíba, a garantia da igualdade racial enfrenta muitos desafios, particularmente relacionados ao contexto histórico de exclusão em que a sua população negra (63%) está inserida. A sociedade possui raízes profundas numa tradição coronelista e escravocrata, associada a um modelo racista de dominação. Um traço marcante desta herança reside no fato de que, quando procuramos entender a maneira pela qual as relações raciais se apresentam numa sociedade como a nossa, podemos perceber que o racismo não existe na consciência de quem o pratica, mas sim nos efeitos de quem sofre os seus efeitos. Logo, o racismo se localiza sempre no outro, nunca nas práticas cotidianas de seus agentes. Nós, mulheres e homens da luta antirracista, nunca deixaremos de nos empenhar na denúncia desse quadro de invisibilidade que traz consigo uma coletânea de estereótipos negativos associados à negritude e reproduzidos nas relações sociais, a exemplo do que aconteceu com o nosso companheiro Danilo e que segue descrito abaixo:
 
“Na tarde de ontem, terça-feira, dia 16 de agosto de 2011, por volta de 14h15min, quando cheguei a uma pronta entrega de confecções, localizada nas imediações do Sistema Correio de Comunicação, na cidade de João Pessoa-PB, fui vítima de uma agressão racista. O intuito era de cadastrar-me e, conseqüentemente, tornar-me um cliente da loja, uma vez que sou um vendedor autônomo de confecções, há pouco mais de seis meses. Apesar disso, fui impedido de entrar na loja. Separados por uma porta de vidro, a funcionária me recebeu aparentando estar espantada, e para justificar tal atitude, alegou que eu não poderia entrar por ainda estarem no horário de almoço.
Questionei que enquanto cliente, que era mais de 14h, e que, além disso, havia pessoas comprando dentro do mesmo ambiente. A vendedora tentou alegar que aquele lugar só vendia por atacado, logo respondi que tinha conhecimento e desejava realizar meu cadastramento. Não satisfeita, a vendedora foi até sua gerente, que, aliás, já tinha falado comigo por telefone pela manhã, em seguida, me perguntou se já tinha cadastro na loja ou em outra pronta entrega. Respondi que apenas não tinha cadastro naquela loja, mas que já o possuía em outras.
Foi daí que a vendedora pediu os nomes das outras lojas onde eu era cadastrado. A partir desse momento não agüentei mais a situação de agressão causada pelo racismo daquelas funcionárias. E diante de tal agressão, perguntei se ela achava que eu iria assaltar a loja. Falei que não tinha cadastro e que para isso acontecer teria que, no mínimo, entrar no recinto, que ela não tava deixando acontecer, e que não daria nome algo de loja, solicitei fala com sua gerente. Novamente a vendedora foi até a gerente, depois de alguns minutos retornou com um cartão com o número da loja ou da gerente (não tenho muita certeza, pois, naquelas circunstâncias, não aceitei), e tentou me entregar pela brecha da porta, sei abri-la.
Nesse momento, novamente solicitei falar com a gerente, e a vendedora saiu e me deixa falando sozinho. Diante disso, virei para o outro lado da rua, onde tinha alguns funcionários do Sistema Correios de Comunicação, e falo: “eles não me deixam entrar na loja, eles pensam que eu sou ladrão”. De imediato o funcionário atravessa rua e vem até a loja, por coincidência o funcionário me conhece, somos da mesma comunidade, e fala mais ou menos dessa forma: “abre a porta, ele é vendedor”. No mesmo instante a gerente vem até nosso encontro e abre porta, e pergunta: “o que está acontecendo”, e eu respondo: “eu que pergunto, o que está acontecendo, faz meia hora que estou tentando entrar na loja e não consigo, eu não sou ladrão” e a mesma respondeu que aquilo era um procedimento da loja, e que faz dessa forma com todas as pessoas desconhecidas.
Então lhe dirijo a palavra novamente, e pergunto de forma irônica se eles tratavam todos desconhecidos assim. Ela responde que sim, e que só abriu a porta porque o funcionário estava com a farda. Depois disso, ela diz que poderia entrar e ficar à vontade. Detalhe, esse é o único momento que coloco meus pés no lado de dentro do ambiente da loja. De pronto respondo: “agora sou eu que não quero comprar na loja, sei por que não abriram a porta, eu vou procurar os meus direitos”, de forma irônica ela me aconselha procurar meus direitos, e fala que não é racista, ressalta que é feita de carne e osso e é cristã, como se os inventores do racismo não tivessem sido seres humanos de carne, ossos e cristãos”.
 
Danilo Santos, 16.08.2011.

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